sexta-feira, 30 de maio de 2008

Livro faz resgate do conflito do Araguaia

Data: 14-04-2005

Adriana Del Ré
Agência Estado

Produzido sigilosamente pelos jornalistas Taís Morais e Eumano Silva, o livro Operação Araguaia - Arquivos secretos da guerrilha (Geração Editorial, R$ 59, 656 págs.), lançado ontem em Brasília, vem com a promessa de mexer novamente em um vespeiro histórico, legado da ditadura militar no Brasil. Um vespeiro que envolveu uma guerrilha sangrenta, deflagrada no Pará pelas Forças Armadas e por militantes do PCdoB, na década de 70.
Numa tentativa de dar um passo além no caso (já investigado em outras reportagens e publicações) e contá-lo do início ao fim, os autores tiveram acesso a 112 documentos militares secretos, que vêm a público depois de mais 30 anos. A dupla se fixou neles para esclarecer pontos obscuros do conflito, com o reforço de fotos, algumas delas inéditas, tiradas por soldados, às escondidas.
"Eu queria entender como as Forças Armadas tinham chegado até os guerrilheiros", conta Taís. A resposta para essa questão veio com um documento confidencial sobre o depoimento de Pedro Albuquerque Neto, o primeiro guerrilheiro a ser preso, em 1972.
Ele fugira, com a mulher grávida, do centro de treinamento da guerrilha no lugarejo de Cigana, no Pará, e fora apanhado no Dops enquanto tentava tirar a segunda via da carteira de identidade. Torturado e mesmo trocando nomes de pessoas e regiões, acabou informando que o campo de treinamento ficava em Cigana, nas proximidades das cidades de São Geraldo e Xangrilá (na realidade, Xambioá). De posse das pistas, militares deram início à primeira de uma série de missões.
Outro fato inédito trazido à tona pelo livro é de que o gaúcho Manoel Jover Telles, do PCdoB (mas que não havia participado da guerrilha), revelou aos agentes da repressão a realização da reunião do partido, numa casa na Lapa. O local se tornaria cenário da chamada "chacina da Lapa", no dia 16 de dezembro de 1976. A morte de membros do partido pôs fim à retomada de uma nova luta armada.
Segundo documento, Telles havia sido preso no Rio, oito dias antes da chacina, no dia 8 de dezembro. O depoimento de Telles foi cordial: ele explicou as divergências dos dirigentes, se posicionou contra a guerra, fez críticas ao partido, entregou nomes e codinomes de todos. De volta a São Paulo, ele não disse aos camaradas sobre sua prisão no Rio. No dia 14 de dezembro, o general Carlos Xavier de Miranda escreveu ofício, comunicando uma operação urbana visando à detenção de militantes do PCdoB, na Lapa. No dia 16, ocorreram as execuções.
Filha de um oficial militar da reserva, Taís Morais contabiliza, ao todo, sete anos dedicados à obra, entre pesquisas, levantamento de documentos produzidos por militares e guerrilheiros, além de entrevistas com sobreviventes e parentes dos mortos.
Para os autores, a guerrilha do Araguaia não pode cair no esquecimento. "O governo militar se esforçou para apagar a Guerrilha do Araguaia da História. O Brasil vivia o período do "milagre econômico". Qualquer informação sobre o movimento armado na Amazônia tornaria a economia nacional ainda mais frágil", escreveu a dupla na introdução do livro.
Longe de ser um livro definitivo, os autores querem desvendar algumas lacunas ainda abertas, como o paradeiro dos corpos de militantes mortos no Pará. A esperança é que essas questões sejam esclarecidas nas próximas edições.

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