sexta-feira, 30 de maio de 2008

Notícias de uma guerra secreta

Livro de Taís Morais e Eumano Silva revela a história da maior guerrilha brasileira
João Paulo - O Estado de Minas

A Guerrilha do Araguaia é um dos episódios mais dramáticos e desconhecidos da história política brasileira recente. O confronto entre as Forças Armadas e os guerrilheiros ligados ao PC do B, nos anos 70, parecia ter como saldo o extermínio dos militantes e a destruição dos documentos. A primeira parte da história é verdadeira, a segunda começa a mudar com a publicação de Operação Araguaia, da pesquisadora Taís Morais e do jornalista Eumano Silva. O livro, de mais de 650 páginas, nasceu de uma série de reportagens do jornal Correio Braziliense.

O volume impressiona sob todos os ângulos. A pesquisa de Taís Morais, filha de militares, traz à luz centenas de páginas de relatórios, fotografias e outros documentos. O texto, construído como romance político, articula informações complexas, conseguindo o raro equilíbrio de seduzir como painel histórico da ditadura e retrato de personagens reais, em seus sonhos e tragédias. Por fim, há um grande número de revelações, como as estratégias das Forças Armadas, nomes de comandantes, confirmação do uso de napalm na Floresta Amazônica, fotografias feitas pelos próprios militares que combateram na região e documentos secretos do PC do B. Apenas um nome é mantido em sigilo.

"A contabilidade de menos de 100 jovens despreparados e armados com mosquetões e revólveres, enfrentando mais de 7 mil militares amparados por tecnologia de guerra, teve o resultado conhecido"

Do sonho de jovens universitários ao massacre do bairro da Lapa, em São Paulo, quando os dirigentes do partido, Pedro Pomar e Angelo Arroyo, são traídos por um membro do Comitê Central (que tem seu nome revelado no livro), Operação Araguaia traça uma história de ingenuidade, violência, tortura e erros políticos. A contabilidade de menos de 100 jovens despreparados e armados com mosquetões e revólveres, enfrentando mais de 7 mil militares amparados por tecnologia de guerra, teve o resultado conhecido. O que o livro revela é uma outra história, ao mesmo tempo objetiva e emocional.

A objetividade está em não tomar partido, dando a palavra aos personagens (dos dois lados do conflito) e aos documentos até então inéditos. A emoção está presente na sensação de inutilidade da perda de vidas de jovens idealistas que, motivados por erros de avaliação e excesso de confiança (inspirados na Revolução Cubana e na resistência do Vietnã), sucumbiram numa batalha cruel e desigual. Osvaldão, os irmãos Petit, Chicão, Elisa, Cristina, Sônia, Lia, Peri e tantos outros nem mesmo tiveram seus corpos entregues às famílias. É uma história que não acabou, mas que agora começa a ser contada de forma honesta.

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